quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Força Expedicionária Brasileira

Brasileiros lutaram na 2ª Guerra Mundial

Vitor Amorim de Angelo*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Uma das estampas comemorativas sobre a vitória dos brasileiros na Itália
O Brasil teve uma participação efetiva na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com o envio, para os campos de batalha, de uma força militar conhecida como Força Expedicionária Brasileira (FEB). Este grupo, que no total chegou a reunir cerca de 25 mil homens, participou, junto com os Aliados (Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética), de combates na Itália travados contra países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

A FEB foi organizada oficialmente em agosto de 1943, embora o Brasil tivesse declarado apoio aos Aliados em janeiro do ano anterior. Nesse meio tempo, vários oficiais brasileiros foram enviados aos Estados Unidos para cumprir treinamentos militares naquele país. Na Itália, as tropas da FEB se juntaram ao 5º Exército norte-americano, e este, por sua vez, ao 10º Grupo de Exércitos Aliados.

Mas a chegada da FEB aos campos de batalha aconteceu apenas em julho de 1944. Portanto, já num momento de inflexão do conflito, que até então parecia estar sob controle do Eixo. O principal objetivo da missão brasileira era reforçar o contingente dos Aliados no combate às tropas do Eixo estacionadas na Itália, no intuito de impedi-las de se unirem às forças inimigas que ocupavam a França. A libertação francesa pelos Aliados, inclusive, foi um dos pontos altos dessa virada na Segunda Guerra Mundial.

Principais combates na Itália

Na Itália, a Força Expedicionária Brasileira teve uma participação efetiva no combate às tropas do Eixo, numa campanha iniciada poucas semanas após o desembarque na Europa. O primeiro combate da FEB ocorreu durante o outono europeu, quando, no vale do rio Serchio, na região da Toscana, militares brasileiros ajudaram na tomada de Massarosa, Camaiore e Monte Prano.

Foi numa outra frente, contudo, na região da Emília Romanha, que a FEB obteve seus resultados mais expressivos: a conquista das comunas de Monte Castello e Montese e o cerco a uma divisão militar do Eixo. Esse local era importante pois, de lá, as tropas inimigas impediam o avanço dos Aliados em direção ao norte da Itália. Após alguns combates diretos, os brasileiros finalmente conseguiram dominar o local, de onde seguiram rumo a Gênova, já próximo à fronteira com a França.

Naquela região, a FEB ainda travou mais alguns combates com militares do Eixo antes de conseguir sua rendição. Ainda nos primeiros meses de 1945, os Aliados conquistaram outras comunas italianas. Quanto à FEB, ainda marchou até Turim e, em seguida, até Susa, onde se juntou às tropas francesas estacionadas na região.

Interesses na organização da FEB

A vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial consolidou uma visão da história que supervalorizou a participação da FEB no conflito e ocultou os interesses envolvidos na formação da Força Expedicionária Brasileira. O sucesso das incursões brasileiras e as baixas sofridas no front - mais de 450 - só ajudaram a consolidar a imagem de um exército forte que foi para a Europa auxiliar na libertação da Europa do nazifacismo.

Internamente, contudo, havia pelo menos dois interesses claros do governo Getúlio Vargas na formação da FEB e em seu envio para o campo de batalha. De um lado, consolidar o Brasil como uma nação militarmente importante na América do Sul. De outro, garantir ao país uma posição de destaque no cenário internacional. Com o primeiro, Vargas pensava poder obter o apoio militar a seu governo. Com o segundo, assegurar o papel de aliado privilegiado dos Estados Unidos.

Embora o governo norte-americano tivesse pressionado Vargas a ceder bases no Nordeste e em Fernando de Noronha para tropas Aliadas (o que contribuiu para que o Brasil declarasse guerra ao Eixo, em janeiro de 1942), o fato é que as vitórias dos Aliados no norte da África, em novembro daquele ano, diminuíram a importância estratégica do Brasil. Daí em diante, se o país entrou de fato no conflito, foi em boa medida resultado da insistência do governo brasileiro.

O curioso é que a participação da FEB explicitou algumas contradições políticas. O Brasil combatia o nazifascismo no exterior quando, internamente, Vargas flertava com tais idéias. A FEB lutava pelo restabelecimento da democracia nos territórios ocupados na Europa quando, no Brasil, havia uma ditadura.

Repetindo o que tinha acontecido no Paraguai ainda no século 19, o envolvimento do Brasil num conflito internacional revelou as contradições da política nacional e ensejou mudanças importantes internamente.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dificuldades para criar uma força expedicionária

 
Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Desembarque de soldados da FEB na Itália
 
 
     Entre o Brasil declarar guerra e conseguir enviar um contingente para lutar nos campos de batalha na Europa houve um longo intervalo de tempo. Os obstáculos eram muitos. Dentre outras razões, o material bélico de que o país dispunha já era obsoleto na época.
     Não bastasse isso, os militares brasileiros ainda seguiam uma organização e uma doutrina que remontavam à Primeira Guerra Mundial, nos moldes da escola militar francesa. Ou seja, os militares brasileiros seguiam um modelo criado na França, país que, desde junho de 1940, estava sob ocupação militar da Alemanha nazista.
     Uma das razões para a França ter sido ocupada pelos nazistas foi o fato de que a maioria dos estrategistas franceses apostava que a Segunda Guerra seria uma guerra de trincheiras (tal como havia sido a Primeira Guerra), subestimando a tática da blitzkrieg ("guerra-relâmpago") adotada pela Alemanha, que consistia num ataque maciço utilizando armamentos modernos, principalmente tanques de guerra.
     O modelo militar francês que ainda era adotado no Brasil também pecava por táticas militares fundadas em regras muito rígidas que, em determinadas circunstâncias, podiam ser totalmente inúteis ou inaplicáveis. Por exemplo, o modelo militar francês ditava que um pelotão de fuzileiros deveria sempre assaltar em ataques frontais as resistências inimigas. Tal regra podia ser adequada em terrenos planos, mas totalmente ineficaz num terreno montanhoso. Como se vê, o modelo francês era bastante inapropriado e nada flexível.


Apoio dos EUA


     Para se modernizar e estar preparado para a guerra, o Brasil precisou da ajuda dos Estados Unidos. No dia 27 de janeiro, Vargas e Roosevelt encontraram-se em Natal para firmar os termos da cooperação militar entre Brasil e Estados Unidos. Os dois presidentes conversaram dentro de um destróier norte-americano, o Jouett, ancorado no rio Potengi. Os dois presidentes conversaram no idioma usado pela diplomacia da época: o francês. Nesse encontro, ficou acertada a criação da FEB (Força Expedicionária Brasileira).
     No esforço de modernizar as forças armadas brasileiras, alguns oficiais brasileiros foram mandados aos Estados Unidos para realizar cursos e estágios. Assim, aos poucos, os então obsoletos modelos militares franceses passaram a ser substituídos pelos modernos modelos norte-americanos.


Dificuldades


     Outro problema enfrentado pelo Brasil foi a dificuldade para encontrar gente qualificada para serviços essenciais nas Forças Armadas: eletricistas, motoristas, mecânicos de automóveis, radiotelegrafistas, profissionais especializados em conserto de rádios, etc. Havia também um número insuficiente de oficiais da ativa, especialmente capitães e tenentes. A solução encontrada foi convocar reservistas, ex-alunos do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva). A maioria desses reservistas era formada por profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros, professores...) que, de uma hora para outra, se tornaram oficiais combatentes.
     Os reservistas transformados em oficiais combatentes ajudaram a desenhar um novo perfil para o exército brasileiro. Muitos oficiais graduados, que estavam servindo por mais tempo, tratavam os subordinados de maneira excessivamente ríspida. Esses subordinados costumavam sofrer prisões disciplinares por motivos insignificantes. Os novos oficiais, vindos do CPOR, adotavam uma postura diferente e mais sensata: como sabiam que a confiança mútua seria essencial em situações de combate, preferiam tratar os subordinados de maneira mais amigável e respeitosa. Tal tratamento era feito sem sacrifício da disciplina e da hierarquia.
     Outro obstáculo foi recrutar homens fisicamente aptos para prestar o serviço militar. Por razões médicas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, um grande número de brasileiros foi dispensado. Entre os motivos da dispensa médica, os mais freqüentes eram problemas de dentição, subnutrição, doenças sexualmente transmissíveis, verminoses e outras infecções.
     Parecia quase impossível que o Brasil conseguisse formar um contingente para lutar na guerra. Os mais céticos diziam, em tom de deboche, que era mais fácil "ensinar uma cobra a fumar" do que o Brasil conseguir formar uma força expedicionária para enfrentar os alemães.


Operação sigilosa


     O plano original era enviar a FEB para lutar no norte da África, mas os brasileiros acabaram sendo enviados para lutar nos campos de batalha da Itália. Outra coisa que saiu diferente do plano original foi o número de homens que fariam parte da FEB: a idéia inicial era mandar cem mil homens para a linha de frente, mas tal meta seria impossível de ser alcançada. Acabaram sendo enviados 25.334 homens.
     No dia 29 de junho de 1944, um trem trazendo os homens da FEB chegou à Vila Militar no Rio de Janeiro. Parecia mais um rotineiro exercício de embarque e desembarque, igual a outros praticados por aqueles homens naqueles meses.
     A FEB estava subdividida em três regimentos de infantaria (o 1º do Rio de Janeiro, o 6º de Caçapava, São Paulo, e o 11º de São João del-Rei, Minas Gerais). Apenas o 6º de Caçapava atravessaria a cidade do Rio, enquanto os demais seriam enviados a outros lugares. Tratava-se de uma forma de manter em sigilo o embarque da FEB.
     A operação foi feita à noite, em etapas e com vários cuidados durante um dos blecautes realizados na cidade do Rio. Tais blecautes eram feitos com o objetivo de proteger a população de um improvável ataque aéreo alemão, mas o sigilo da operação era para evitar um perigo bem mais provável: o de que algum submarino alemão soubesse do embarque e torpedeasse o navio que transportava os homens da FEB.
     O sigilo era tal que os pracinhas brasileiros sequer puderam se despedir dos familiares. A proibição não impediu que muitos encontrassem um jeito de visitar os familiares e as namoradas antes de partir. Houve casos de oficiais que permitiram, informalmente, que alguns pracinhas realizassem essas visitas, desde que dessem a palavra de que não desertariam (promessa geralmente cumprida). Vale lembrar que o número de deserções na FEB foi insignificante.
     Até mesmo o destino final da viagem foi mantido em segredo. A maioria dos pracinhas acreditava que ia lutar no norte da África, mas só ficaram sabendo que iam lutar na Itália quando, após treze dias de viagem, avistaram o monte Vesúvio na baía de Nápoles. A cobra estava prestes a fumar.

sábado, 23 de outubro de 2010

     Armamentos, Veículos e Equipamentos


     A capacidade de fogo da Primeira Divisão Expedicionária da FEB consistia em:
  • 16.245 armas individuais;
  • 505 metraladoras de mão;
  • 144 morteiros;
  • 66 obuses;
  • 2.287 armas anti-tanque;
  • 237 metralhadoras de emprego geral;
  • 1.632 lança-rojões (bazucas);
  • 2. 585 lança-chamas;
  • 72 detetores de minas;
  • 14.254 máscaras contra gases;
  • 736 aparelhos telefônicos;
  • 42 aparelhos telegráficos;
  • 10 aviões de observação e ligação, Piper Cub, dos Grupos de Artilharia.  
A INFANTARIA possuía carabinas; fuzis de ferrolho, fuzis semi-automáticos, metralhadoras, morteiros, lança - rojões e canhões de 37 e 57 mm;

A ARTILHARIA contava com obuses de 105 e 155 mm;

A CAVALARIA usava Carros de Combate sobre rodas M-8 Greyhound, que foram usados em missões de reconhecimento.

     As armas individuais eram a carabina M-1 .30, o fuzil de ferrolho Springfield .30, fuzil semi-automático Garand .30, pistola semi-automática Colt .45 ACP e o revolver Smith & Wesson . 45 modelo 1917; as submetralhadoras Thompson .45 ACP e M-3 "Grease Gun" .45 ACP.
     As armas de uso coletivo eram: as metralhadoras Browning .30 e Browning .50, os morteiros de 60 e 81 mm e os
canhões de 37 mm e o Six Pounder de 57 mm.
     A mobilidade da Primeira Divisão Expedicionária da FEB era assegurada por 1.410 veículos, de diversos tipos e modelos, que permitiam o translado de uma terça parte dos seus efetivos numa só manobra. As operações através de cursos de água ficavam garantidas com a utilização de 47 botes de assalto.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os Símbolos - 1º Grupo de Caça





     Porto de Norfolk, Virgínia, EUA - 20.09.1944 (Quarta) - Aqui inicia-se a história do avestruz de quepe. Pronto para embarcar para o Teatro de Operações, com o grito de guerra em todas os gargantas, faltava ao Grupo um emblema. Coube ao Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira, o Comandante da Esquadrilha Azul, artista cuja característica é a criatividade de impacto, desenhá-lo, o que foi feito a bordo do navio USAT Colombie, que transportou a Unidade do Porto de Norfolk. Virgínia, EUA, ao porto de Livorno. Apareceu, então, pela primeira vez, a figura atlética do Avestruz do 1º Grupo de Caça, que nunca escondeu a cabeça diante do perigo, como reza a tradição dos seus primos.
     Ao contrário, os que o levaram em suas missões de guerra, pintado na carenagem do motor dos Thunderbolts, foram condecorados por atos de bravura pelo Governo dos Estados Unidos, por proposta do Comandante da 12ª Força Aerotática da USAAF, a quem o 1º Grupo de Caça estava subordinado operacionalmente no Teatro de Operações do Mediterrâneo.
     O Avestruz Guerreiro do "Senta a Pua!" foi para a FAB o que representa o emblema "A Cobra Está Fumando" para o Exército, através das batalhas de Monte Castelo, Montese e outras, sustentadas e vencidas pelos heróicos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira.
    SARGENTO MAX WOLF FILHO UM HERÓI BRASILEIRO




     Natural de Rio Negro (PR), alistou-se em Curitiba, aos 18 anos, no 15º Batalhão de Caçadores, unidade extinta cujas instalações são hoje ocupadas pelo 20º Batalhão de Infantaria Blindado (20º BIB), em Curitiba (PR). No ano de 1944, apresentou-se voluntariamente para compor a Força Expedicionária Brasileira, integrando a então 1ª Companhia do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), em São João del-Rei (MG).
     Destacou-se por sua bravura no decorrer da Guerra, tornando-se conhecido pelo seu destemor, intrepidez e abnegação. Suas façanhas eram proclamadas pelas partes de combate e por vários correspondentes de guerra das imprensas nacional e estrangeira.
     No dia 12 de abril de 1945, o 11º RI recebeu a missão de reconhecer a região de Monte Forte e Biscaia, a denominada "terra de ninguém". O sargento Wolff foi voluntário para comandar a patrulha de reconhecimento, que foi constituída por 19 militares que se haviam destacado por competência e bravura em outros combates.
     Nessa missão, foi fatalmente atingido por uma rajada de metralhadora alemã, que o atingiu na altura do peito.
     Somente vários dias após seu passamento o corpo do sargento Max Wolff Filho foi encontrado. Foi agraciado post mortem com as medalhas de Campanha de Sangue e Cruz de Combate, do Brasil; e com a medalha Bronze Star, dos Estados Unidos da América. Foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro, em Pistóia, na Itália; posteriormente, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil. Em sua homenagem, a Escola de Sargentos das Armas (EsSA) leva seu nome como patrono.
     Em 2010, foi criada a Medalha Sargento Max Wolff Filho pelo Decreto nº 7118. Tal medalha é conferida a subtenentes e sargentos do Exército brasileiro, em reconhecimento à dedicação e interesse pelo aprimoramento profissional, que efetivamente se tenham destacado no seu desempenho profissional, evidenciando características e atitudes inerentes ao 2º Sargento Max Wolff Filho.


Participantes Ilustres da FEB

Homenagem aos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra, em Belo Horizonte.

     Serviram na Força Expedicionária Brasileira pessoas dos mais variados extratos sociais. Alguns, nos anos seguintes desempenhariam diretamente papéis de destaque na vida política, social e cultural brasileira. Outros, indiretamente como pais, educadores ou profissionais, que em suas respectivas áreas influenciaram por aceitação ou oposição personalidades das gerações posteriores. Citamos por ordem alfabética alguns dos seguintes nomes:
  • Camilo Cola - empresário e político fundador do Grupo Itapemirim
  • Albuquerque Lima - Ministro do Interior entre 1967 e 1969.
  • Antônio Matogrosso Pereira - Militar de carreira do exército e pai do cantor e showman Ney Matogrosso.
  • Celso Furtado - Intelectual e economista da CEPAL, criador da SUDENE e Ministro do Planejamento no governo João Goulart.
  • Clarice Lispector - Escritora, atuou como voluntária junto ao corpo de enfermeiras da FEB[.
  • Golbery do Couto e Silva - Ministro da Casa Civil entre 1974 e 1981.
  • Hugo Abreu - Ministro da Casa Militar entre 1974 e 1978.
  • Humberto de Alencar Castello Branco - Presidente do Brasil entre 1964 e 1967.
  • Jacob Gorender - Escritor, militante político e um dos fundadores do PCBR.
  • Octavio Costa - Idealizador das campanhas publicitárias do Regime Militar no período Médici.
  • Osvaldo Cordeiro de Farias - Governador de Pernambuco entre 1955 e 1959.
  • Perácio - Jogador de futebol carioca, nacionalmente famoso nos anos de 1940.
  • Poli - Músico profissional, já reconhecido no meio artístico quando convocado. Multinstrumentista que influenciou nomes da MPB nos anos de 1960.
  • Salomão Malina - Presidente nacional do PCB entre 1987 e 2001.
CONTEXTO HISTÓRICO




Uma Cia do III Batalhão do 11º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial.



      Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, o Brasil manteve-se neutro, numa continuação da política do presidente Getúlio Vargas de não se definir por nenhuma das grandes potências, somente tentando se aproveitar das vantagens oferecidas por elas. Tal "pragmatismo" foi interrompido no início de 1942, quando os Estados Unidos convenceram o governo brasileiro a ceder a ilha de Fernando de Noronha e a costa nordestina brasileira para o recebimento de suas bases militares. A partir de janeiro do mesmo ano começa uma série de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros por submarinos ítalo-alemães na costa litorânea brasileira, numa ofensiva idealizada pelo próprio Adolf Hitler, que visava isolar o Reino Unido, o impedindo de receber os suprimentos (equipamentos, armas e matérias-prima) exportados do continente americano, como consta nos diários de Joseph Goebbels, suprimentos estes vitais para o esforço de guerra aliado e que, sabiam que os alemães iriam abastecer à partir de 1942, pelo Atlântico norte, principalmente a então União Soviética. Supunha-se também de que os ataques sofridos pelos navios brasileiros eram por engano. Já que os navios brasileiros faziam o mesmo trajeto dos americanos.
Tinha também por objetivo a ofensiva submarina do eixo em águas brasileiras intimidar o governo brasileiro a se manter na neutralidade, ao mesmo tempo que seus agentes no país e simpatizantes fascistas brasileiros, pejorativamente denominados pela população pela alcunha de Quinta coluna, espalhavam boatos que os afundamentos de navios mercantes seriam obra dos anglo-americanos interessados em que o país entrasse no conflito do lado aliado.



Fragata da marinha brasileira enfrentando um submarino alemão.
 

      No entanto, a opinião pública não se deixou confundir, comovida pelas mortes de civis e instigada também pelos pronunciamentos provocativos e arrogantes, emitidos pela Rádio de Berlim, passou a exigir que o Brasil reconhecesse o estado de beligerância com os países do eixo. O que só foi oficializado em 22 de agosto do mesmo ano, quando foi declarada guerra à Alemanha nazista e a Itália fascista. Após a qual, diante da contínua passividade do então governo, a mesma opinião pública passa a se mobilizar para o envio à Europa de uma força expedicionária como contribuição à derrota do fascismo.
      Porém só quase dois anos depois, em 2 de julho de 1944, teve início o transporte do primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira, sob o comando do general João Batista Mascarenhas de Morais, com destino à Nápoles. As primeiras semanas foram ocupadas se aclimatando ao local, assim como recebendo o mínimo equipamento e treinamento necessário, sob a supervisão do comando estadunidense, ao qual a FEB estava subordinada, já que a preparação no Brasil demonstrou ser deficiente, apesar dos quase 2 anos de intervalo entre a declaração de guerra e o envio das primeiras tropas a frente.
      Embora o Brasil já tivesse declarado guerra, estava completamente despreparado para o conflito. A Aeronáutica estava apenas começando a se modernizar, com aviões de fabricação americana. A Marinha tinha uma série de velharias, pouco aptas a combater submarinos. O Exército também estava mal-equipado e, ainda por cima, todo o seu treinamento tinha sido feito por uma missão do exército francês, que adotava concepções bastante antiquadas. Eis como definiu a situação Demócrito Cavalcanti de Arruda (que na Itália, seria ferido em Montese): "Aviação inexistente. Algumas dezenas de aparelhos estrangeiros, antiquados, sem campo de pouso, sem oficinas de conserto e pessoal de serviço. O Exército era outra salada mista: canhões de campanha franceses, sobras de guerras anteriores, metralhadoras francesas e dinamarquesas. Artilharia de costa norte-americana, artilharia alemã e fuzis alemães. Assim, a Força Expedicionária Brasileira, FEB, teve que ser criada do zero, com material americano.
     Os brasileiros constituíam uma das vinte divisões aliadas presentes na frente italiana naquele momento, uma verdadeira torre de Babel, constituída por estadunidenses (incluindo as tropas segregadas da 92ª e 442ª divisão, formadas por afro-descendentes e nipo-descendentes respectivamente, comandadas por oficiais brancos), italianos antifascistas, exilados europeus (poloneses, tchecos e gregos), tropas coloniais britânicas (canadenses, neozelandeses, australianos, sul-africanos, indianos, quenianos, judeus e árabes) e francesas (marroquinos, argelinos e senegaleses), em uma diversidade étnica que muito se assemelhava à da frente francesa em 1918.
      A FEB foi integrada ao 4º corpo do exército estadunidense, sob o comando do general Willis D. Crittenberger, este por sua vez adscrito ao V exército dos Estados Unidos, comandado pelo general Mark W. Clark.